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Sofia Ramos dos Magano em entrevista ao CA Notícias

Sofia Ramos dos Magano em entrevista ao CA Notícias

Os Magano são uma banda composta por três elementos (Sofia Ramos, Nuno Ramos e Francisco Brito). O seu primeiro álbum, lançado recentemente, tem uma premissa dedicada a uma tradição musical que normalmente é mais conhecida para os alentejanos: o cante.

A premissa principal da banda é o novo “take” dado a esta tradição musical. Quem ouve o novo álbum desta banda irá certamente reconhecer também elementos de fado e jazz. Esta primeira compilação é inspirada por vários géneros musicais clássicos e apresenta melodias suaves, relaxantes e, de certa, forma nostálgicas.

Foto de Universal Music Portugal

O CA Notícias conversou um pouco com Sofia Ramos, uma das vocalistas deste projeto, que nos deu a conhecer um pouco mais da história e o trabalho dos Magano. A história destes três jovens como trio musical, começou em 2014.

CA Notícias: Antes de mais, conta-me: como surgiram os Magano?

Sofia Ramos: Na verdade, os Magano já existiam antes de nós os três termos pensado nesta configuração. O meu irmão Nuno Ramos já tinha pensado em fazer alguns arranjos de modas alentejanas, e tinha assim algumas coisas guardadas na gaveta. Entretanto, conheci o Francisco, que era o contrabaixista num espetáculo musical que estávamos a fazer no Teatro do Bairro. Juntámo-nos e gravámos um CD e no fim incitou-nos muito a explorar outros géneros musicais. O cante era óbvio que tinha de fazer parte, até pela herança familiar que já tínhamos.

Foto de: Universal Music Portugal

A minha família do lado da minha mãe (da minha e do Nuno) é do Alentejo, e o nosso avô cantava muito bem e tínhamos esse gosto pelo cante alentejano. Então quando estava a fazer residência numa casa de fados, deixei o Francisco fazer um arranjo de uma moda e apresentamos isso numa noite. Correu muito bem e decidimos chamar o meu irmão para cantar connosco. Quando cantámos todos juntos ainda correu melhor, e foi nesse momento que decidimos criar os Magano. Foi a partir desse momento que começámos a tocar juntos!

CA: E porquê o Cante Alentejano? O que vos atrai neste género?

Sofia Ramos: O cante é um tipo de música muito visceral e tradicional e provém de pessoas, especificamente da história das pessoas. É uma coisa muito natural. Eu sinto que é para qualquer um de nós; quando ouvimos um grupo de cantares alentejanos há qualquer coisa a fervilhar cá dentro e que nos dá vontade de saltar para fora das cadeiras e de cantar com as pessoas que o estão a fazer. Para além de todas as memórias afetivas que nos traz, pelas vivências no Alentejo que nós tivemos.

CA: Tendo em conta que a vossa música é inspirada pelo Cante Alentejano, fado e jazz, qual acreditam que seja o vosso fator distintivo em relação a outras novas bandas?

Sofia Ramos: O que nos define é agarrar na tradicionalidade e transformá-la respeitando-a. Ou seja, nós fazemos arranjos musicais que não são do Cante Alentejano e encontramos uma sonoridade nova através destas músicas tradicionais. Especificamente através dos arranjos instrumentais, através do facto de sermos só duas vozes e uma delas ser feminina. Acho que é isso que nos distingue e torna este projeto único.

CA: Fala-me um pouco acerca de “Chamaste-me Extravagante”. Como defines este single de estreia?

Sofia Ramos: O meu irmão, o Nuno, já tinha ouvido a música. Eu já a tinha cantado. Nós pegamos nisso e tornámo-la assim um bocadinho mais completa, também com contrabaixo, com melódica e percussões.

A música em si, pela letra, fala de alguém que foi ter uma noitada, que gosta muito do cante e torna a casa de madrugada. Faz-nos muito lembrar o nosso avô que era um bom vivã: gostava de ir beber o seu copinho, chegava a altas horas da noite porque estava na taberna a cantar. Então há essa ligação muito sentimental.

Também o próprio arranjo foge um bocadinho do cante. Eu acho que uma pessoa quando ouve a música pela primeira vez não vai associar logo ao cante, a menos que saiba e conheça aquela moda. E isso é interessante e é o nosso objetivo. É nós sermos capazes de agarrar na música em si (e na moda em si), cantá-la com melodia da moda, mas transformá-la e torná-la em algo mais contemporânea e urbana.

CA: Aliás, como definem o vosso álbum de estreia? O que esperam que as pessoas retirem do vosso álbum?

Sofia Ramos: Há duas hipóteses de resposta que são as duas válidas. Uma é chegar às pessoas que já conhecem e mostrar-lhes que aquilo que estamos a fazer não desrespeita a origem da música mas estamos a reinventá-la. O nosso interesse também é que as pessoas que já conhecem esta música de tradição consigam ouvi-la de outra forma, com outras sonoridades. Também podemos dizer que estamos a reinventar para não deixar a tradição morrer.

Foto de: Universal Music Portugal

Outro ponto é a malta nova, que se calhar não ouve tanto cante alentejano, poder vir a gostar do cante ou a ouvir através da nossa música. Porque, de alguma forma, tem uma abordagem mais jovem e que consideramos que chega mais facilmente às pessoas. É possível dizer a alguém novo que o cante é bom e que temos de ouvir o cante alentejano porque faz parte das nossas tradições.

CA: O álbum foi lançado a 5 de outubro. Que tipo de feedback têm recebido até agora?

Sofia Ramos: Temos recebido um bom feedback. Ainda não temos tido críticas negativas, mas há muita malta que conhecemos que gosta muito e acha este álbum muito bonito.

CA: Notam se há alguma faixa etária em particular que se tenha interessado pelo vosso trabalho?

Sofia Ramos: Ainda não conseguimos entender isso muito bem, mas é engraçado porque, de alguma forma, achávamos que isto podia ser para uma faixa etária mais adulta. E agora acho que isto também chega à geração mais nova. E, no outro dia, o meu irmão contou-me que estava a irmã de uma amiga na universidade a ouvir as nossas músicas porque gostava mesmo muito da música. Então acho que é, assim, abrangente. Não digo que se calhar seja um trabalho “super jovem”, mas ser jovem também é ter 30 anos, não é?

CA: Que projetos futuros podemos esperar de vocês após o lançamento deste novo álbum?

Sofia Ramos: Nós neste álbum, só as músicas fazem todas as partes do repertório tradicional. Foi o nosso ponto de partida. Nós temos a ideia de no futuro criar temas originais sempre inspirados no cante. De nos embrenharmos com os grupos corais que existem para tentar captar mais a essência do cante e renovar ainda mais nesse sentido.

Foto de: Universal Music Portugal

Quanto aos nossos objetivos de concerto: nós queremos tocar no máximo de sítios possíveis. Queremos que as pessoas oiçam a nossa música e queremos que as pessoas se liguem ao cante.

CA: Qual é o vosso tema favorito e porquê?

Sofia Ramos: O meu tema favorito é a “Trigueirinha Alentejana”. Eu adoro o arranjo musical. Para mim é dos que me faz sentir mais coisas cá dentro. A do Francisco é “Os Guardas”. O meu irmão não sabe responder porque ele gosta de todas.

CA: Gostariam de deixar uma mensagem final aos nossos leitores?

Sofia Ramos: Para nos acompanharem, para ouvirem a nossa música, para apoiarem a música portuguesa e a música tradicional, neste caso, o cante alentejano. E oiçam o cante alentejano tal e qual como ele é, porque é fortíssimo e poderosíssimo.

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