A última noite do NOS Alive ficará para sempre na memória por causa de Pearl Jam, o nome tão forte que esgotou o dia e os passes de 3 dias em pouco tempo, e a “Seven Nation Army”. Saiba como correu o dia 14 de Julho no Passeio Marítimo de Algés.
O dia 14 de Julho, ao contrário dos dois anteriores, já estava bem repleto à hora do primeiro concerto do dia no Palco NOS. O facto de ser Sábado e da euforia generalizada por Pearl Jam ajudaram a que isso acontecesse, dando mais público aos The Last Internationale. A banda americana já é uma velha conhecida deste festival, quando na edição de 2014 irromperam numa interpretação de “Grândola, Vila Morena” de Zeca Afonso, surpreendendo os que estavam presentes no festival. Agora em 2018, e já depois de terem actuado em Portugal várias vezes, já sabemos que Edgey Pires, guitarrista dos The Last Internationale, é neto de portugueses. E por isso mesmo foi com naturalidade que o vimos a envergar uma camisola da selecção portuguesa neste concerto. Aos poucos, a banda vai conquistando um lugar interessante em Portugal, e a actuação revelou-se acertada para quem esperava pelos grandes nomes do dia.
Alice in Chains eram os homens que se seguiam, sendo a primeira amostra grunge do dia. Com William DuVall no papel de vocalista da banda de Seattle, apresentaram de imediato “Check My Brain” e “Again”, ficando o primeiro momento mais animado do público para “Them Bones”, mas mesmo assim sem arrancar grandes cantorias por parte dos presentes. Será que a maior parte dos fãs que tinham esgotado o dia em poucas horas eram apenas fãs de Pearl Jam e não do grunge? Pelo menos foi essa a ideia com que ficámos, apesar de isso muitas vezes depender muito do local onde se vê o concerto. Os Alice in Chains foram aquilo que sempre foram, apresentaram-se como se “Dirt” tivesse sido editado ontem, sujos e pesados. Sendo talvez a banda dos quatro grandes do grunge menos radiofónica, os seus êxitos são recebidos de forma mais apática do que nos concertos a seguir. “Man in The Box”, “Nutshell” e “Rooster” fizeram, no entanto, as delícias dos fãs da banda. Não tendo sido espectaculares, cumpriram. Mas a sensação que fica é que será difícil ver os Alice in Chains noutro tipo de registo em Portugal ao serem recebidos assim sem grande entusiasmo.
Foto: Arlindo Camacho/NOS Alive9 anos depois os Franz Ferdinand regressaram a Lisboa para se estrearem no Alive. A banda britânica é daquelas que pensamos que actuam cá mais vezes do que realmente acontece. A última vez que tinham actuado em Portugal foi em 2014, quando foram cabeças-de-cartaz do Vodafone Paredes de Coura. Agora com “Always Ascending” na bagagem, a banda apresentou um alinhamento constituído maioritariamente pelos seus grandes êxitos e por 3 novas faixas: a homónima “Always Ascending”, “Glimpse of Love” e “Lazy Boy”. A banda originária da Escócia pegou fogo ao palco com músicas como “Take Me Out” ou “This Fire”, mas já é normal isso acontecer. Enérgicos como costume, os Franz Ferdinand fazem parte daquele lote de bandas que calha bem em qualquer cartaz. Por onde passam, vão conseguir pôr os espectadores a saltar. É sempre bom receber Alex Kapranos e os rapazes em Portugal.
Já passavam mais de dez minutos da hora marcada (21h05) quando subiu ao palco principal Jack White. Um dos guitarristas mais icónicos deste século tinha uma tarefa estranha em mãos. Em 2007, na primeira edição do então denominado Optimus Alive!, Jack White era o grande cabeça-de-cartaz, mas na altura liderando os agora extintos The White Stripes. Relatos contam que esse terá sido um dos melhores concertos de todas as edições do Alive. Neste sábado, o retrato era bastante diferente por dois motivos principais:
1 – Parece que ainda há muita gente que não sabe quem é Jack White;
2 – Eram muito poucos os que lá estavam por ele, pois o dia já estava mais do que esgotado antes de ter sido anunciado no cartaz.
A recepção controversa do novo álbum “Boarding House Reach” poderia ser outro motivo a ser apresentado para a fraca agitação do público com o aparecimento em palco de Jack White, mas por tudo o que o rodeou a actuação, a ideia com que se fica é que os poucos que de facto ouviram o disco, gostaram de o ouvir representado ao vivo. Com um público mortiço pela sua frente, Jack White foi tirando ases da sua larga cartola, passando pelos melhores momentos da sua carreira a solo, pelos The White Stripes, pelos The Raconteurs e até pelos The Dead Weather, a ver se ganhava algum tipo de movimento por parte dos espectadores. Começando com duas extraordinárias músicas rock da sua carreira a solo, “Over and Over and Over” e “Lazaretto”, seguindo de imediato para “Hotel Yorba”, White deixou bem explícito que não era por ter pouca adesão por parte do público que ele ia dar um concerto menor, ele não é assim. Tantos clássicos deste século como “I’m Slowly Getting Into You”, “We’re Going To Be Friends” ou “Broken Boy Soldier” a serem recebidos com a menor animação dos espectadores da frente só nos fazem pensar no concertão que este poderia ser, caso estivessem presentes mais fãs de Jack White. O guitarrista só conseguiu tirar 3 momentos de extrema alegria do público: quando apareceu uma imagem de Trump a levar com uma seta, quando tocou a música universal “Seven Nation Army” e quando apareceu mais tarde no concerto dos Pearl Jam, por esta ordem de grandeza. Quando antes deste concerto ouvia-se comentar que muitas dos espectadores que ali estavam não sabem que a “Seven Nation Army” foi escrita pelo artista que ia subir a palco antes dos Pearl Jam, sorriamos um pouco. Estamos na época do streaming e do fácil acesso à música, e a “Seven Nation Army” não passou nunca de moda, estando se calhar até mais popular neste momento. Finalizado o concerto, apercebemo-nos que a afirmação anterior revelou-se muito verdadeira, confirmando que o livre e rápido acesso às obras musicais, não correlaciona directamente com um maior conhecimento musical por parte de quem usa as plataformas de streaming diariamente. Nota ainda para a excelente actuação da restante banda que Jack White trouxe consigo, mantendo sempre a actuação em grande plano, relembrando por vezes um concerto de free jazz, tal era (ou parecia ser) o improviso total dos elementos da banda.
Tendo ficado a largas milhas do espectáculo que Jack White nos ofereceu em 2012 no Coliseu de Lisboa, só pedimos que este herói da guitarra venha cá mais vezes, e de preferência o mais rapidamente possível em sala fechada.
Foto: João Silva/NOS AliveA noite era de Eddie Vedder e restante banda e ninguém podia pôr isso em causa, tal como foi comprovado presencialmente. Poucos dias depois de terem sido anunciados como os cabeças-de-cartaz do festival, os bilhetes para o dia 14 Julho esgotaram, e poucas horas depois os passes de 3 dias já estavam esgotados também. Portanto não era nada difícil de adivinhar que os 55 mil no Passeio Marítimo de Algés estavam lá pelos Pearl Jam. Começando o concerto em lume brando com “Low Light”, foi logo na segunda música “Better Man” que se viu a confissão dos milhares presentes a Eddie Vedder, com poucos a não cantarem “She lies and says she’s in love with him, can’t find a better man She dreams in colour, she dreams in red, can’t find a better man”.
Já passaram 28 anos desde a criação da banda, e é incrível a devoção dos fãs à banda de Seattle. Enquanto esperávamos pela subida a palco de Vedder, Mike McCready, Stone Gossard, Jeff Ament e Matt Cameron, víamos e ouvíamos pessoas vindas dos quatro cantos do planeta propositadamente para ver os Pearl Jam. Israel, África do Sul ou Inglaterra foram alguns dos países representados neste dia do festival, e mais países certamente estariam representados em Algés. Com tudo o que aconteceu ao rock e ao grunge, os Pearl Jam ainda navegam como uma banda estável e com a qual podemos contar sempre. Eles são “a banda”, estatuto apenas comparável na actualidade com bandas como U2, Metallica ou Rolling Stones, e isso não é difícil de alcançar. Muito se deve à simpatia natural de Eddie Vedder e restantes companheiros de banda. As actuações da banda transbordam de inocência, oferecendo tudo o que têm, porque sabem que as pessoas que estão ali tiveram de gastar muito dinheiro e o seu tempo para os ver, e portanto querem sempre dar-lhes a actuação da sua vida.
Eddie Vedder já é um velho conhecido dos portugueses, por isso já sabemos que ele vai falar connosco em português, algo que poderia parecer um esforço exagerado para delinear algum tipo de ligação com o país onde actuam, mas com Eddie tudo soa bem. Não conseguindo estabelecer o mesmo tipo de intimidade em concertos a solo (como aquele mítico concerto no Meco que terminou já depois das 4h30), Eddie tentou mesmo assim em todos os momentos aproximar-se dos 55 mil espectadores, mesmo os que estavam mais longe do recinto. E se faixas como “Go” ou “Mind Your Manners” não cheguem aos pináculos de extâse que “Even Flow” ou “Alive” conseguem, a verdade é que todos respeitam essas decisões de alinhamento e ouvem-nos até ao fim com o maior dos interesses, algo também difícil de conseguir actualmente.
“Daughter” chega-nos com uma adaptação de “It’s Ok” dos Dead Moon em português, “Está tudo bem”. Até ao encore temos um desfilar de músicas que nos fazem lembrar que os Pearl Jam ainda têm o que é preciso para fazer delirar tantos milhares num recinto aberto e com tantas distrações como um festival. “Black” deverá ter tido uma das maiores cantorias que Algés já sentiu no trecho “Why can’t it be mine”.
Chegado o encore, e sabemos que há tantas faixas que queremos ouvir do catálogo dos Pearl Jam, mas a banda não nos ajuda. Em 5 músicas escolhidas para o final do concerto, 3 são covers: “Imagine” de John Lennon, “Comfartably Numb” dos Pink Floyd e “Rockin’ in the Free World” de Neil Young. Para além disso, ainda temos uma “Porch” disfarçada de “Seven Nation Army”, que levou Jack White às gargalhadas nos ecrãs do Palco NOS. Não que as interpretações não tenham sido boas, pois obviamente que foram e carregadas com mensagens políticas fortes de Eddie Vedder, mas queríamos muito mais ouvir outros clássicos da banda como “Yellow Ledbetter” que acabou por ser preterida no alinhamento do encore.
Depois de “picado” pelos Pearl Jam, Jack White vir-se-ia a juntar a banda de Seattle para a música final, a “Rockin’ in the Free World”, dando-se um momento inesquecível em Algés, que muito se falou (e vai se falar) pelo mundo fora. 8 anos sem virem a Portugal poderá ter criado expectativas demasiado altas para este concerto dos Pearl Jam, que foi competente e emocionante, mas não transcendente. Ficou a faltar mais uma meia hora de duração e um encore mais certeiro. Fica na retina o coro uníssono de “Black” e a possibilidade de ver no mesmo palco Jack White e Eddie Vedder.
Foto: Arlindo Camacho/NOS AliveOmar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala voltaram a reunir a banda em 2016 e regressaram a Portugal em 2017, logo com estatuto de cabeça-de-cartaz do Vodafone Paredes de Coura. Depois de ter enchido a Praia do Tabuão, deverão ter recebido com alguma estranheza o facto de terem que atrasar o seu concerto no Sábado por mais de 40 minutos, à espera que os Pearl Jam terminassem a sua actuação no palco principal do NOS Alive. Com o recinto a esvaziar depois do concerto dos Pearl Jam, os At The Drive-In seriam o grande nome do Palco Sagres do último dia com a tarefa de manter os espectadores ligados à corrente por mais uns minutos. Mas isso não aconteceu por diversos motivos. O atraso do início do concerto levou a que muitos já não estivessem presentes no recinto quando os At The Drive-In subiram a palco, e os curiosos que tiraram algum do seu tempo para passar na tenda do Palco Sagres para ver mais uma actuação e comer qualquer coisa entretanto, certamente que se dirigiram para o Palco Clubbing, onde actuavam ao mesmo tempo os The Gift. Isto porque o som da banda texana é forte, bebendo muitas das influências do post-hardcore , o que indiciava que esta não seria a melhor escolha para descansar depois de Pearl Jam e Jack White. Para além disso, o próprio som do palco estava demasiado alto e com pouca definição (contrastando com o que ouvimos no resto da noite no palco principal). Com todas estas condicionantes, o concerto dos At The Drive-In foi visto à séria por poucas centenas de pessoas, e Cedric Bixler não parou de tecer comentários estranhos tanto aos Pearl Jam como aos espectadores, tanto queixando-se do pouco tempo que tinham para actuar como do cheiro a fiambre do público. Contas feitas, um concerto curtíssimo, intenso mas com pouco público.
Foto: Hugo Macedo/NOS AlivePara finalizar a noite e a edição este ano do NOS Alive tivemos a oportunidade de assistir ao concerto mais Coachella deste ano. Poucas bandas são tão trendy ou alinhadas com o status quo desta geração que os MGMT, apesar de parecer que eles já não o querem ser. Com o novo disco “Little Dark Age” os americanos enveredaram ainda mais pela experimentação e pelo psicadelismo, deixando um pouco de lado os grandes êxitos comerciais e tornando-se um pouco mais negros. Iniciando a actuação com os singles do mais recente álbum, o concerto só se tornou incendiário com “Time to Pretend”, uma daquelas músicas que está no imaginário colectivo da geração Coachella. E se no resto dia víamos pessoas de todas as idades a celebrar os grandes concertos rock e as celebrações nostálgicas de muitos, neste último concerto a frente do Palco NOS foi invadida por Millennials, envergando as últimas tendências da indumentária para os festivais de verão e exultando de alegria quando soaram as primeiras notas de “Kids”, e que ainda foi intercalada com os acordes de “Seven Nation Army”. Não que o público estivesse morto adormecido no resto do concerto, pelo contrário, mas também não estavam com grande vontade de ouvir o novo som da banda. E isto poderá ser uma bota difícil de descalçar para os MGMT. O atraso significativo do início da actuação não ajudou a que o público se mantivesse mais concentrado, tendo começado muito depois das 2h da manhã. Da parte da banda, para além do bom espectáculo gráfico, também não parecia haver grande vontade de serem os artistas da after-party do NOS Alive ’18. Esperamos por novo retorno a Portugal, porque este álbum “Little Dark Age” merece uma apresentação condigna por cá.
A CA Notícias esteve presente na edição deste ano do festival nos dias 12, 13 e 14 Julho e poderá consultar aqui toda a informação sobre o NOS Alive ’18.
The National no NOS Alive ’18 – À 15ª vez continuam a surpreender