Corria o ano de 2006 quando a produtora Evolution Studios lançou MotorStorm, um videojogo de corrida-arcada. Seguiram-se as sequelas MotorStorm: Pacific Rift e MotorStorm: Apocalypse em 2008 e 2011, respectivamente, o spin-off MotorStorm: RC em 2012 e por último, em 2014, Driveclub.
Nesse mesmo período, outra produtora de nome Codemasters produzia também títulos de corrida aclamados, como os da série Dirt, Grid e F1.
Quando a Sony encerrou a Evolution Studios, após o lançamento de Driveclub em exclusivo para a PlayStation 4, os membros da produtora acabariam por ser contratados pela Codemasters, concentrando assim diversos anos de experiência no desenvolvimento de títulos de corrida num único estúdio.
Assim, pela batuta da Codemasters, mas mais em concreto por ex-membros da Evolution Studios, chega-nos Onrush, aquele que é um dos mais divertidos e inovadores títulos do género nos últimos anos.
Essa inovação advém do facto de Onrush combinar as habituais mecânicas de títulos do género, como o acumular de boost, através de saltos e derrube de adversários, para depois utilizá-lo, com mecânicas usualmente vistas em shooters multiplayer, nomeadamente aqueles que utilizam “heróis” como personagens jogáveis, com um conjunto de habilidades pré-definidas, e nos quais o objectivo principal vai muito além de ser o jogador com maior número de “frags”.
Ao contrário de um videojogo de corrida regular, onde os veículos à disposição do jogador contam com os tradicionais atributos de velocidade, controlo ou tipo de terreno a que se adequam, cada um dos oito veículos de Onrush conta com três habilidades únicas; a Special Ability, que contribui para o ganho de boost, maior eficiência na sua utilização ou execução de takedowns nos adversários, Rush Fuel, para atingir mais facilmente os 100% da barra de rush e que, por conseguinte, possibilita a utilização da Rush Ultimate, que, tal como o nome indica, permite a realização de uma “derradeira” habilidade, forte o suficiente para alterar o rumo de qualquer corrida.
Tomando como exemplo a Outlaw, uma de duas motas disponíveis, a execução de um salto numa rampa contribui desde logo para a acumulação de boost, mas ao realizar um truque durante o mesmo, como retirar as mãos do guiador, permite um ganho directo de rush e no momento em que aterra é activada a sua Special Ability, em forma de uma onda de choque que torna os adversários em seu redor mais vulneráveis a takedowns. Ao atingir os 100% de rush, realizando as acções anteriormente descritas, e activando o seu Rush Ultimate, a mota ganha não só uma velocidade superior, mas também a capacidade de drenar o boost dos oponentes que estiverem ao seu alcance. Num exemplo mais defensivo e a assumir o papel de healer, temos o muscle car Dynamo, uma vez que reúne habilidades que resultam em boost adicional para colegas de equipa.
Isto porque para além de ter adoptado as mecânicas de “heróis” em shooters multiplayer e aplicado as mesmas aos seus veículos, a Codemasters optou também por fazer de Onrush uma competição em equipa, onde o usual objectivo de atingir a meta em primeiro lugar é substituído por objectivos para o qual todos os jogadores da equipa podem, e devem, contribuir.
Concretamente, todas as corridas são disputadas por duas equipas compostas por seis elementos, no entanto estão também sempre presentes veículos controlados pela inteligência artificial, sem afiliação de equipa e que servem como “carne para canhão”; são mais susceptíveis a serem derrubados, o que contribui para que a jogabilidade frenética seja sempre constante.
As corridas apresentam também diversos modos de competição, como Overdrive, o mais simples e directo de todos, já que para ser a equipa vencedora basta ser também aquela que mais boost usou em canda ronda, Countdown, que pede a cada jogador para passar entre pórticos que vão surgindo ao longo da pista, de forma a estender o tempo restante da sua equipa e onde a derrota é entregue à equipa que tiver o seu tempo esgotado em primeiro lugar. Em Lockdown, a equipa que conseguir manter por cinco segundos a maioria dos seus veículos dentro de uma área circular, que se movimenta ao longo da pista, conquista pontos e, por conseguinte, a vitória, e em último lugar, o modo Switch que implica que todos os jogadores comecem a corrida a bordo de uma das duas motos, Outlaw ou Blade, e há medida que sofrem um takedown é perdida uma das três vidas disponíveis para cada um, o que obriga que o próximo respawn seja feito com um dos dois veículos da classe seguinte; buggies, muscle cars e jipes, e apesar de ter vantagens, faz com que as três vidas de cada jogador sejam esgotadas, originando assim a derrota da equipa.
No entanto, apesar de serem bastante inovadores no género e permitirem, em conjunto com o leque de veículos com habilidades distintas, uma jogabilidade divertida e frenética, alguns destes modos de competição sofrem de problemas na sua execução.
Em Countdown, a largura dos pórticos aumenta consoante os veículos que passam nos mesmos, deixando de representar qualquer tipo de desafio para os jogadores que estejam colocados atrás do “pelotão”. Talvez o inverso, a diminuição da largura dos pórticos, fosse mais eficiente. Já no modo Switch, para além de de ser difícil, não existe motivo para manter por muito tempo a primeira vida a bordo da mota, uma vez que é mais simples abdicar da mesma e passar para o veículo seguinte, de forma a derrubar os adversários que ainda estejam a bordo de uma mota.
Estes modos de competição e a utilização dos oito veículos disponíveis ganham novos contornos ao longo das doze pistas disponíveis em Onrush, que percorrem cenários diversos, como florestas, desfiladeiros, praias, zonas industriais, entre outros, sendo algumas delas verdadeiramente memoráveis, não só pela sua beleza, mas também pela forma como foram construídas, com enormes saltos, caminhos alternativos e patamares mais elevados, permitindo várias estratégias no momento de derrubar o adversário. Apesar de ser possível utilizar o cenário como vantagem, existem também situações em que ocorre o inverso, uma vez que alguns objectos ao apresentarem um fraco polimento de arestas, acabam por causar acidentes inesperados.
É através da conjugação dos pontos referidos anteriormente, que a jogabilidade de Onrush atinge uma maior dimensão. O momento de escolha do veículo, consoante o modo de competição e a respectiva pista, é alvo de uma maior ponderação, principalmente no modo multiplayer, não só por ser o modo onde outros jogadores fazem a sua própria escolha, mas também por ser aquele onde a definição e aplicação de uma estratégia ocorre de forma mais competente, proporcionando uma diversão quase interrupta, não fosse o problema de em muitas vezes o takedown adversário ser desprovido de qualquer intenção e, logo de seguida, o respawn ocorrer numa situação completamente desfavorável, como em frente a um objecto do cenário ou no caminho de um adversário, sendo impossível evitar outro abalroamento.
Para além do multiplayer, o título da Codemasters dispõe do modo Superstar, a campanha singleplayer onde é apresentado todas as mecânicas do mesmo, e do modo que permite criar corridas costumizáveis. Ainda por disponibilizar e como parte da componente multiplayer, está prometido um modo ranked, sendo mais que certo que será neste onde irão ocorrer as maiores competições.
Esta longevidade aumenta exponencialmente se o jogador pretender desbloquear todas as skins disponíveis para cada um dos condutores e veículos, obtidas de forma aleatória na abertura de loot boxes ou compradas com a moeda do jogo. De louvar que Onrush é completamente livre de microtransacções, logo, as loot boxes e moedas são obtidas através da experiência de jogo.
Apesar de existirem em grande quantidade e por níveis de raridade, o detalhe visual dos modelos é minimalista, principalmente no momento de embate entre veículos e respectivos takedowns, uma vez que são muito poucos os danos visíveis. Ainda no departamento gráfico, em vez de um visual realista, a Codemasters optou por um visual animado para Onrush, tornando o mesmo num dos títulos mais coloridos dos últimos tempos.
Quanto ao desempenho, ainda que o ecrã de jogo esteja sempre preenchido por diversos veículos, explosões e estilhaços, o mesmo corre sem qualquer tipo de quebras na framerate.
Um outro ponto que se apresenta em perfeita sintonia com a jogabilidade frenética e que contribui bastante para uma adrenalina constante, é a presença de uma banda sonora onde impera o género electrónico e sub-géneros, como dubstep e drum ‘n’ bass, havendo ainda espaço para algum rock, jazz e hip hop.
Enquanto que para a grande maioria de nós, a junção da jogabilidade arcada e desenfreada de um Burnout 3: Takedown com as mecânicas de um shooter multiplayer como Overwatch, era algo descabido, a Codemasters decidiu colocá-lo em prática, conseguindo reinventar a corrida-arcada com Onrush, que apesar de sofrer de alguns problemas de execução, é uma lufada de ar fresco não só no género, mas também numa indústria onde cada vez existe menos inovação.