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Dário Guerreiro (Môce dum Cabreste) em entrevista à CA Notícias

Dário Guerreiro (Môce dum Cabreste) em entrevista à CA Notícias

Dário Guerreiro, conhecido entre os seus fãs como Môce dum Cabreste, ganhou notoriedade não só através do seu canal de youtube, mas também através do stand up comedy. A CA Notícias conversou um pouco com o humorista sobre essas duas vertentes que compõem a sua carreira.

CA Notícias: Como soubeste que o teu “destino” era fazer as pessoas rir?

Dário Guerreiro: Não foi um click, foi acontecendo de forma gradual. Talvez na primeira vez que atuei pelo facto de ter corrido bem naquela altura fiquei com aquela cena de “Olha, se calhar isto é fixe, ainda por cima pagam”.

CA: E como é que de um curso de cozinha passaste para humor?

Dário Guerreiro: Foi gradual. Acabei o curso de cozinha quando tinha 18 anos. Descobri quando trabalhei em cozinha pela primeira vez que não era bem aquilo que queria fazer. Não era a minha vocação, por assim dizer. Mesmo assim como os meus pais estavam a investir dinheiro em mim decidi acabá-lo à mesma. Mas quando fui para a faculdade já tinha uma área mais parecida com aquela que era a minha área de interesses.

Da cozinha para a comédia ainda existiu um intervalo de três, ou quatro ou cinco anos até isso acontecer: Eu tirei o curso, comecei a trabalhar e só depois a comédia aconteceu.

CA: Se não fosses humorista o que imaginas que serias?

Dário Guerreiro: Uma pessoa triste talvez. É um alívio fixe tu descobrires o que gostas de fazer e perceberes que consegues fazer vida disso. A maior parte das pessoas passa a vida inteira ou a trabalhar naquilo que não gosta, ou faz o que gosta mas isso não paga as contas. E eu tenho a sorte de conseguir fazer aquilo que gosto e ganhar algum dinheiro com isso.

Se eu não fosse isto teria de fazer outra coisa, talvez na área do turismo tendo em conta que vivo no Algarve. Entraríamos agora num efeito borboleta em que é impossível prever o que poderia acontecer.

CA: E o que te levou a quereres ser youtuber?

Dário Guerreiro: Ser youtuber é uma coisa recente. Antigamente a gente fazia vídeos para o youtube que era um site que servia para alojarmos os nossos vídeos lá. Fazíamos vídeos a brincar, da mesma forma que tentávamos replicar o que acontecia na televisão e, como não havia mais nenhum local para partilhar o que a gente fazia, metíamos no youtube.

Eu nem sei se sou youtuber porque eu já fazia vídeos para o youtube muito antes da profissão “youtuber” existir. O que me levou a ser youtuber? Não foi uma decisão consciente. Eu faço vídeos para o youtube desde 2006. A dada altura toda a gente entra para o youtube e já eu lá estava.

CA: Mas achas que essa profissão atualmente compensa em Portugal?

Dário Guerreiro: Não. Não, o mercado é reduzidíssimo. É difícil penetrar num mercado como o Brasil. Nós recebemos muita informação do Brasil, muitas novelas e músicas. Mas eles não consomem nada que seja feito em Portugal por isso o nosso mercado é muito reduzido: 10 milhões de pessoas.

É óbvio que há youtubers portugueses que conseguem subsistir, mas também não podemos descurar o facto de, para já, eles fazem vídeos para uma faixa etária que tem mais tempo livre logo consome mais o meio. E eles também conseguiram de certa forma penetrar no Brasil porque falam de uma determinada forma.

Mas esta trata-se de uma percentagem de youtubers muito reduzida. É muito difícil chegar a esse tipo de elite. Não existe uma fórmula para isso acontecer, muito menos se tu fazes vídeos de humor e os vídeos de humor têm um problema que é o facto da nossa matéria prima ser muito reduzida. Eu não posso fazer um vídeo diferente todos os dias. Como faço humor eu não tenho matéria-prima para fazer vídeos todos os dias.

CA: Muitos jovens (nomeadamente) atualmente seguem youtubers. Achas que isso de certa forma coloca algumas responsabilidades na profissão de youtuber?

Dário Guerreiro: Muitos desses youtubers querem sacudir a água do capote e ignorar a responsabilidade social que têm. Como se eles não tivessem acesso aos dados das faixas etárias das pessoas que os assistem.

Por muito que tu não queiras assumir essa responsabilidade porque queres continuar a fazer o que te apetece e não queres ser responsável por toda a educação de uma geração (E não és! Não és pai deles!) quando tu sabes que tens uma grande quantidade de miúdos com idades compreendidas entre os 10 ou 15 anos a ver-te (que estão numa fase de formação da sua personalidade), quer tu queiras quer não eles olham para ti de certa forma como um modelo. Se tu os incentivares a fazer uma determinada coisa, alguns deles se calhar hão-de absorver essas referências.

Portanto essa responsabilidade existe e nós temo-la mesmo que não a queiramos assumir. Isto não significa que tu mudes a tua maneira de agir, ou o tipo de vídeos que fazes em função disso, agora essa consciência tem que existir. Tens que ter consciência de que há pessoas que te vêm e que aquilo que tu fazes pode influenciar as pessoas.

Agora, com esse poder que tu tens tu fazes o que quiseres com ele, sem dúvida. Eles não vão ser completamente culpados se toda uma geração for uma merda, mas se toda uma geração começar a replicar comportamentos que eles façam, talvez parte da responsabilidade seja deles.

Eu felizmente já estou um bocado livre disso, porque não tenho lá muitos adolescentes a ver os meus vídeos, é mais malta adulta. Até porque eu não acho que passe propriamente um exemplo mau. Digo palavrões, mas quem vê os meus vídeos não é a primeira vez que os está a ouvir. E, através do humor, acabo por passar as minhas ideologias, as minhas filosofias de vida. E as filosofias pelas quais me guio são as que acho que estão corretas. Eu não vejo mal nenhum se toda a gente não pensar como eu.

Mas se me for imputada a responsabilidade de educar uma geração eu não vou ficar minimamente triste, chateado ou preocupado se essa geração aprender alguma coisa de mim. Não acho que vá ficar comprometida, pelo contrário, acho que vai ganhar um bocadinho mais de sentido de humor, um bocadinho mais de sede de sabedoria e um bocadinho mais dos valores que acho que partilho.

CA: Gostas mais de um ambiente em palco ou atrás das câmaras?

Dário Guerreiro: Eu prefiro é estar em casa e não fazer nada (risos). São duas coisas completamente diferentes e hoje em dia eu já não consigo dissociar uma da outra.

Uma coisa completa a outra, ou seja, os vídeos que eu faço no youtube chegam a muita gente e eu consigo trazer essas pessoas para me verem ao vivo e nos espetáculos ao vivo consigo convencer muitas pessoas a acompanharem os meus vídeos. E eu não repito conteúdo: aquilo que eu faço em palco não faço nos vídeos e o que eu faço nos vídeos não faço em palco. São duas plataformas diferentes que implicam um ritmo completamente diferente.

https://www.instagram.com/p/BczkhDDH-KF/?taken-by=mocedumcabreste

Quando eu faço o vídeo eu escrevo, edito e gravo com a calma que tenho. Portanto o período de consumo de vídeo de cinco minutos é uma coisa mais cuidada. Mas por outro lado aquilo que tenho de fazer em palco implica que tenho um ritmo muito elevado para que as pessoas se riam com determinada frequência sob pena de não acharem piada ao que estou a dizer ou fazer.

CA: Ser humorista compensa em Portugal?

Dário Guerreiro: Depende da qualidade que tu tenhas. Se fores bom naquilo que fazes e te esforçares é uma consequência natural da tua qualidade e ires arranjando trabalho. É como tudo na vida.

Por exemplo, compensa ser jornalista? Se fores bom compensa. O que funciona para mim funciona para qualquer profissão. Funciona ser talhante hoje em dia? Se fores bom e gostares do que estás a fazer compensa.

CA: Achas que os portugueses têm sentido de humor?

Dário Guerreiro: Os portugueses não são todos iguais. Um povo inteiro não é uma pessoa, são várias pessoas. Felizmente a maior parte das pessoas que se dirigem a espetáculos de comédia têm sentido de humor. Acho que toda a gente gosta de se rir e todas as pessoas têm sentido de humor.

Ninguém não gosta de rir. Agora há pessoas que não têm um sentido de humor exatamente desenvolvido e continuam a achar piada às piadas que se contavam nos Malucos do Riso ou nos Batanetes.

Quando somos crianças o nosso sentido de humor é mais primitivo e depois vais desenvolvendo. A dada altura as “piadas de xixi e cóco” deixam de te estimular o cérebro porque te desenvolves cognitivamente. O sentido de humor é como cócegas que te fazem no cérebro. Quanto mais tu estudas, quanto mais tu evoluis e quanto mais capacidade tu tens para compreender o mundo à tua volta mais refinado passa a ser o teu sentido de humor.

Toda a gente tem sentido de humor. Existem é pessoas que têm um sentido de humor mais primitivo, parecido ao que tinham quando eram crianças. Todas as incidências que ocorrem nas vidas das pessoas contribuem para um atenuamento ou agravamento do seu sentido de humor.

Mas de uma forma geral, os portugueses, como toda a gente, gostam de rir.

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