“E ao terceiro dia, ressuscitou”. Não, Carlos Martins não é Jesus. O escasso cabelo e o facto de não transformar água em vinho, fazem perceber à partida que não é Jesus. O antigo, não o de agora. Porém, o certo é que Carlos tem em si um toque de predestinado, tanto pela forma como coloca a bola onde quer, como pelo facto de, também ele, ter ressuscitado.
Não foi ao terceiro dia, mas pode-se dizer que voltou à vida – enquanto futebolista, entenda-se – após ter andado 1 ano e 7 meses a ser negligenciado e ostracizado no anterior clube. O certo é que voltou. Poucos acreditavam na sua vinda e muitos faziam de tudo para não acreditar. As opiniões dividiam-se mas a incerteza adjacente ao seu feitio e ao passado recente faziam muitos adeptos do Belenenses estarem com um pé atrás, ou os dois, em alguns casos. A transferência acabaria por se consumar uns meses largos antes da reabertura do mercado de Janeiro. Martins voltava assim à fase preparatória antes da verdadeira ressurreição. O culminar de tudo isto foi numa triste efeméride, os 7 golos sofridos na Pedreira e o mau auguro de tudo e todos. Sol de pouca dura. O agora número 12 do Belenenses não tardou em demonstrar a todos os que o acusavam de vir para aqui “passar férias”; “para sair à noite”; ou tantos outros laivos de desconfiança que se acabariam por revelar, como de costume, em vão. Carlos Martins acabou por pegar de estaca na equipa e revelar-se o maestro do onze. Tudo isto aliado a uma incrível força de vontade e garra, como quem sentisse o clube tanto quanto nós, sócios do Belenenses.
Há quem diga que quem aprende a andar de bicicleta não esquece. Não me pronuncio porque nunca aprendi. Contudo, o caso pode funcionar com o futebol. Quem sabe não esquece, não desaprende nem deixa que o bichinho morra. Foi este o caso de Carlos. Mesmo após um tortuoso e penoso “castigo”, veio para Belém mostrar que não está acabado, ajudando o clube na sua caminhada fantástica rumo à Europa. O seu passe, visão de jogo, remate e experiência, têm-no levado à preponderância total que tem tido na equipa. A forma como trata a bola por tu e quase que a cola aos pés, a forma como descobre uma linha de passe que quase mais ninguém vê, a experiência de quem tem muitos anos disto e sabe o que faz e o potente tiro de fora da área, fazem de Martins o jogador que faltava no Restelo. Passando a fazer parte daqueles que também fazem o clube crescer e elevam o seu nome. É a prova de que os internacionais portugueses podem voltar a ser uma constante e de que o prestígio do nosso clube é grande para atrair jogadores desta tarimba. O facto de ter renovado há pouco tempo demonstra também que, o nosso maestro – e agora capitão -, está tão ou mais feliz no clube do que o clube por tê-lo.
Esta é a 2ª vida de Carlos Martins. Pode não ser tão recheada de mediatismo, de imprensa, de adeptos, de títulos, ou mesmo de dinheiro, no entanto, o certo é que o Belenenses é o clube certo para um jogador do seu calibre, da mesma forma que ele é o jogador certo para o clube. Prova disso são os grandes defeitos outrora apontados que agora são encobertos pelo talento e genialidade do médio. Só esperamos que este renascimento do número 12 de Belém, tenha o mesmo pano de fundo do que vários trechos da carreira do internacional português, ou seja, o festejo de títulos.